O PINHAL DE LEIRIA ARDEU




Durante o dia de ontem e de hoje, dos piores dias de incêndios florestais em Portugal, ardeu o “pinhal de Leiria”, pinhal que de certa forma simboliza um dos primeiros grandes empreendimentos do estado no controlo e ordenamento do território português. É um dia triste porque, ao que dizem as notícias, ardeu praticamente na sua totalidade.
Mandada plantar no século XIII, ainda antes do rei D. Dinis, foi com este rei que foram feitas as grandes sementeiras de pinheiro bravo. (Site do ICNF, Relatório para a gestão das matas nacionais, (acesso em 16 outubro de 2017), capítulo 7: portfolio das matas nacionais geridas pela AFN, pág. 99

“A Mata Nacional de Leiria (MNL) com 11 062 hectares, está arborizada numa superfície de 10 177 hectares, tendo como espécie principal o pinheiro-bravo (que ocupa 73% da área da Mata) para produção de madeira de qualidade e dimensão, sendo a restante área florestada ocupada por pinheiro-manso, acácias, eucaliptos, carvalhos, sobreiro e outras folhosas e resinosas.” (ibid.)

Pelo seu evidente interesse, transcrevo os factos singulares referidos naquele site do ICNF, desconhecidos da maioria das pessoas, para quem o pinhal de Leiria é só o pinhal plantado pelo rei português D. Dinis.

“Factos singulares
·        O Pinhal de Leiria resulta, pelo menos em parte, da mais antiga ação de reflorestação em larga escala realizada pelo Homem, a partir do século XIII.
·        No Pinhal de Leiria decorrem diversos projetos de investigação, ligados aos variados centros universitários e de investigação florestal, constituindo desde sempre um dos principais centros de formação e divulgação das técnicas florestais.
·        Os programas de arborização com pinheiro-bravo realizados noutros países (em especial na Austrália, mas também na África do Sul, Nova Zelândia, etc.) tiveram como base o pinheiro de Leiria, considerado de qualidade e crescimento superior, o qual também serviu de base ao programa nacional de melhoramento genético desta espécie desde a década de 1960.
·        Na Mata ocorrem diversos exemplares e maciços arbóreos classificados de interesse público, nomeadamente pinheiros-bravos, eucaliptos (algumas das mais altas árvores do País) e samoucos, para além de formações vegetais espontâneas e espécies endémicas (por exemplo, a única pequena árvore endémica de Portugal continental, o Juniperus navicularis). As formações rochosas que ocorrem na MNL, em particular os diversos tipos de sistemas dunares, apresentam um elevado valor geológico.
·        A MNL foi identificada como mata modelo, por se tratar de um espaço florestal de elevado interesse para o desenvolvimento de modelos de silvicultura para as matas das dunas e areias litorais, quer na sua função produtiva, quer nas de conservação da natureza e recreio.
·        A MNL é compartimentada por arrifes (no sentido norte/sul) e aceiros (no sentido nascente/poente) em 142 talhões de cerca de 35 hectares, tendo esta organização territorial sido definida no séc. XIX pelo Eng. Bernardino Barros Gomes.
·        Junto ao mar situa-se uma zona de abrigo (a “secção de proteção”), não produtiva, onde existem os “pinheiros serpente”, contorcidos pela ação dos ventos salgados que sopram do mar (o fuste faz lembrar uma serpente). A MNL constitui um importante elemento de proteção da orla costeira e dos sistemas dunares.”
(Site do ICNF, Relatório para a gestão das matas nacionais, (acesso em 16 outubro de 2017), capítulo 7: portfolio das matas nacionais geridas pela AFN, pág. 100 http://www.icnf.pt/portal/florestas/gf/regflo/resource/doc/mn-leiria)

Isto ardeu. Para além do valor histórico e simbólico, é um nicho de biodiversidade que se perde.

Comentários

  1. João Alves, a exemplo dos graves incêndios que ocorrem em Portugal recentemente, aqui no Brasil sofremos anualmente com o que denominamos "temporada dos incêndios florestais". Um ano menos trágico que o outro, é certo que perdemos em biodiversidade e em vidas. Sinto falta de um modelo preventivo eficaz, pois pelo que sinto, apenas planos emergenciais de inverno não são suficientes para deter a força do fogo. Abraços, Natalia.

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