O PINHAL DE LEIRIA ARDEU
Foto de Paulo Cunha/Lusa. Acesso em 16 outubro de
2017. http://rr.sapo.pt/noticia/95895/fotogaleria-e-devastador-o-pinhal-de-leiria-virou-um-manto-negro
Durante o dia de ontem e de hoje, dos piores dias de incêndios florestais em Portugal, ardeu o “pinhal de Leiria”, pinhal que de certa forma simboliza um dos primeiros grandes empreendimentos do estado no controlo e ordenamento do território português. É um dia triste porque, ao que dizem as notícias, ardeu praticamente na sua totalidade.
Mandada plantar no
século XIII, ainda antes do rei D. Dinis, foi com este rei que foram feitas as
grandes sementeiras de pinheiro bravo. (Site do ICNF, Relatório para a gestão das matas nacionais,
(acesso em 16 outubro de 2017), capítulo 7: portfolio das matas nacionais
geridas pela AFN, pág. 99
“A Mata Nacional de Leiria (MNL) com 11 062 hectares, está
arborizada numa superfície de 10 177 hectares, tendo como espécie
principal o pinheiro-bravo (que ocupa 73% da área da Mata) para produção de
madeira de qualidade e dimensão, sendo a restante área florestada ocupada por
pinheiro-manso, acácias, eucaliptos, carvalhos, sobreiro e outras folhosas e
resinosas.” (ibid.)
Pelo seu evidente interesse, transcrevo os factos singulares
referidos naquele site do ICNF, desconhecidos da maioria das pessoas, para quem
o pinhal de Leiria é só o pinhal plantado pelo rei português D. Dinis.
Do site do ICNF: http://www.icnf.pt/portal/florestas/gf/regflo/resource/doc/mn-leiria
“Factos singulares
·
O Pinhal de
Leiria resulta, pelo menos em parte, da mais antiga ação de reflorestação em
larga escala realizada pelo Homem, a partir do século XIII.
·
No Pinhal de
Leiria decorrem diversos projetos de investigação, ligados aos variados centros
universitários e de investigação florestal, constituindo desde sempre um dos
principais centros de formação e divulgação das técnicas florestais.
·
Os programas de
arborização com pinheiro-bravo realizados noutros países (em especial na
Austrália, mas também na África do Sul, Nova Zelândia, etc.) tiveram como base
o pinheiro de Leiria, considerado de qualidade e crescimento superior, o qual
também serviu de base ao programa nacional de melhoramento genético desta espécie
desde a década de 1960.
·
Na Mata ocorrem
diversos exemplares e maciços arbóreos classificados de interesse público, nomeadamente
pinheiros-bravos, eucaliptos (algumas das mais altas árvores do País) e
samoucos, para além de formações vegetais espontâneas e espécies endémicas (por
exemplo, a única pequena árvore endémica de Portugal continental, o Juniperus
navicularis). As formações rochosas que ocorrem na MNL, em particular os
diversos tipos de sistemas dunares, apresentam um elevado valor geológico.
·
A MNL foi
identificada como mata modelo, por se tratar de um espaço florestal de elevado
interesse para o desenvolvimento de modelos de silvicultura para as matas das dunas
e areias litorais, quer na sua função produtiva, quer nas de conservação da
natureza e recreio.
·
A MNL é
compartimentada por arrifes (no sentido norte/sul) e aceiros (no sentido
nascente/poente) em 142 talhões de cerca de 35 hectares, tendo esta organização
territorial sido definida no séc. XIX pelo Eng. Bernardino Barros Gomes.
·
Junto ao mar
situa-se uma zona de abrigo (a “secção de proteção”), não produtiva, onde
existem os “pinheiros serpente”, contorcidos pela ação dos ventos salgados que
sopram do mar (o fuste faz lembrar uma serpente). A MNL constitui um importante
elemento de proteção da orla costeira e dos sistemas dunares.”
(Site do ICNF, Relatório para a gestão das matas
nacionais, (acesso em 16 outubro de 2017), capítulo 7: portfolio das matas nacionais
geridas pela AFN, pág. 100 http://www.icnf.pt/portal/florestas/gf/regflo/resource/doc/mn-leiria)
Isto ardeu. Para além do valor histórico e simbólico,
é um nicho de biodiversidade que se perde.
João Alves, a exemplo dos graves incêndios que ocorrem em Portugal recentemente, aqui no Brasil sofremos anualmente com o que denominamos "temporada dos incêndios florestais". Um ano menos trágico que o outro, é certo que perdemos em biodiversidade e em vidas. Sinto falta de um modelo preventivo eficaz, pois pelo que sinto, apenas planos emergenciais de inverno não são suficientes para deter a força do fogo. Abraços, Natalia.
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