GEOCONSERVAÇÃO - O CASO DO ALGAR DO BOM SANTO
A geodiversidade, de entre os seus valores já referidos em
anteriores reflexões, inclui o valor cultural onde não pode deixar-se de
referir as questões históricas e arqueológicas (Brilha, 2005). Determinada formação geológica pode ter interesse
porque foi importante na vida e desenvolvimento passados da vida humana, determinado
pela investigação histórica e arqueológica (Sharples, 2002). É o caso do Algar
do Bom Santo, na Serra do Montejunto.
Descoberto em 1993, constituiu uma das mais importantes
necrópoles neolíticas a nível europeu. Nos trabalhos desenvolvidos já foi
possível identificar 121 indivíduos, suspeitando-se da existência de muito
mais.
A sua ocupação foi estimada em cerca de 500 anos ao longo do
IV milénio a.C. verifica-se que a sua entrada foi intencionalmente bloqueada
quando terminou o seu uso, sendo possível ainda ver-se possíveis pegadas
humanas de quem o fez.
Fica aqui o vídeo da reportagem feita pela RTP 2, infelizmente
sem a faixa de áudio.
Bibliografia
Brilha, J. (2005). Património Geológico e Geoconservação, pp.
40-51. Braga: Palimago.
Sharples
(2002). Concepts and Principles of Geoconservation. Tasmanian Parks and
Wildlife Services.
Duarte, Cidália, Necrópole neolítica do Algar do Bom Santo,
revista portuguesa de Arqueologia, volum 1, nº 2. 1198, acedido em 3 de
dezembro de 2017: http://www.patrimoniocultural.gov.pt/media/uploads/revistaportuguesadearqueologia/1_2/9101112/9.pdf
O sítio arqueológico do Algar do Bom Santo, acedido em 3 de
dezembro de 2017: https://sapientia.ualg.pt/bitstream/10400.1/7565/5/02%20O%20S%C3%ADtio%20Arqueol%C3%B3gico%20do%20Algar%20do%20Bom%20Santo.pdf
AESDA – Terra Humana- Necrópole Neolítica do Algar do Bom
Santo (1995), acedido em 3 de dezembro de 2017: https://www.youtube.com/watch?v=2ak8K9Vrt3Q
Meu caro João Alves esse tipo de trabalho por você apresentado nos leva sempre às reflecções. Como que cada um em seu ramo profissional, normalmente até se dedicando bem à área de formação e ao trabalho ignora muita coisa. Que nos cerca.
ResponderEliminarAqui no Brasil, Estado de Minas Gerais, onde esse cidadão que agora escreve reside, há duas importantes propostas de geoparques, cujo objetivo é a preservação dos elementos abióticos e os fósseis encontrados na natureza. Em Uberaba se propõe preservar as pegadas dos dinossauros e no chamado Vale do aço” há a determinada intenção da geoconservação do “quadrilátero ferrífero”.
Esse Estado da Federação tem sua economia fundamentada na exploração mineral e o minério de ferro exportado para todo o mundo é o principal produto. Logo, caso essa proposta de criação de geoparque do “quadrilátero ferrífero” não for de fato aprovada, os traços daquela região vão desaparecer e o Estado perderá importante memória de sua geodiversidade. Mesmo fenômeno se dará com o município de Uberaba com as pegadas dos extintos dinossauros. Quem diria que eu, graduado em história estaria me referindo com mais frequências sobre esses temas. Temos realmente de ficarmos mais atentos sobre tudo que nos cerca principalmente no que se refere a esses importantes aspectos paisagísticos e-ou fósseis que podem desaparecer, caso não façamos nada. Muitas vezes nos preocupamos com aspectos econômicos, geográficos e científicos ocorridos bem distantes da gente, enquanto fatos importantes vão acontecendo bem próximos de nós, e nada da gente dar a eles a devida significação.
Bibliografia:
Oliveira, José Carlos da Silva, Geoparques no Brasil, disponível em www.cprm.gov.br, acessado em 17-11-2017.
Ribeiro, Luiz Carlos Borges, Geoparque Uberaba - Terra dos Dinossauros do Brasil. Acessado em www.cprm.gov.br
Em 17-11-2017.
Zilmar Figueiredo
Obrigado, Zilmar, pelo seu comentário. Diz o Povo que de boas intenções está o Inferno cheio. De facto, na nossa vida profissional, somos constantemente confrontados com os nossos ideais face à pressão da sociedade e da economia. Principalmente quando estão em causa industrias que geram rendimento e emprego e que, sem elas, as populações da área ficarão em situação muito difícil.
EliminarCumprimentos,
João Alves
Caro João:
ResponderEliminarAqui a Este do Montejunto, na margem Sul do Tejo, foi descoberto em 1863, o sítio arqueológico dos Concheiros de Muge, que é considerado o maior complexo mesolítico da Europa. Os concheiros são «colinas artificiais» onde se estabeleceram sazonalmente várias comunidades de caçadores-recolectores que faziam da apanha de moluscos uma das suas principais atividades. A região onde está o sítio arqueológico, terá sido há 8000 anos um estuário semelhante ao de Lisboa, e as grandes acumulações de conchas terão sido colocados em algumas décadas para sinalizar e proteger o local (onde se realizavam enterramentos complexos ). As conchas são restos de alimentos e assim também se encontram nos concheiros restos de outros animais, como ossos e restos esqueléticos de peixes, nos últimos anos foram encontrados vários esqueletos humanos.
Os meios científicos atuais e o pormenor com que têm decorrido os trabalhos permitem novas interpretações sobre a ocupação do local e a comunidade que o habitou. Anualmente, durante um mês, uma equipa interdisciplinar de investigadores e arqueólogos das universidades do Algarve, de Coimbra, de Lisboa, do Porto e universidades do Canadá e de Inglaterra, escavam em Muge. Os sítios arqueológicos tal como os geossítios têm de ser protegidos, e quanto mais vulneráveis forem as condições dos locais identificados menos favorável é a sua integração em percursos e roteiros turísticos (Brilha, 2005). Neste caso, a escavação localiza-se (bem escondida) em terrenos da Casa Cadaval e só estão a descoberto durante a campanha de escavações. No final de cada campanha são de novo cobertos e preservados para que possam no futuro continuar a ser estudados esperando por novas inovações cientifícas e tecnológicas. Tive a sorte de visitar a escavação, em 2016, e observar a descoberta de mais um esqueleto. A investigação continuará a ser financiada e entre 2018 e 2020 vários não especialistas poderão colaborar nas atividades de escavação. Espero lá estar!!
Cumprimentos
Ana Marta
Ana Marta, obrigado pelo comentário. Não fazia ideia do que se está a passar em Muge. Compreendo perfeitamente que os locais devem ser mais ou menos secretos para que possam ser preservados, mas li há pouco que a arqueologia e os arqueólogos informam pouco as comunidades e isso aumenta a iliteracia e impede a empatia para com o seu trabalho. Por exemplo foi para mim uma surpresa quando em trabalhos que coordenei de repavimentação de um adro de Igreja, os arqueólogos terem escavado, por se tratar de um cemitério, natural em adros de igreja, e procederem a trabalhos forenses de forma a estudar algumas doenças de que poderiam padecer as pessoas a quem pertenciam os esqueletos, permitindo assim um conhecimento maior e melhor sobre as comunidades que habitaram os lugares. Este conhecimento deve chegar às populações de uma forma mais publicitada de forma a criar a empatia necessária à preservação e conservação.
EliminarCumprimentos
João Alves
João, concordo perfeitamente que a informação é essencial para reduzir a iliteracia, mas infelizmente há sempre o amigo dos alheio....
EliminarDurante as 3/4 semanas de campanha arqueológica a Câmara Municipal de Salvaterra organiza algumas visitas à escavação. E apesar de conhecer os Concheiros há muitos anos por leituras que fiz sobre evolução humana em Portugal, só assim consegui visitar os Concheiros e lá reencontrar alguns colegas de Antropologia. Soube que alguns investigadores já permaneceram lá de noite para impedir roubos e vandalismo.
Quanto a escavações em igrejas, há vários constrangimentos devido à religião e às paleopatologias e patogéneos. *Por exemplo, foi relatado, em Inglaterra, um caso de encerramento de uma cripta devido à possibilidade de lá se encontrar o vírus altamente mortal da varíola.
Ainda relativamente à iliteracia esta, infelizmente, afeta transversalmente a sociedade, por exemplo colegas minhas, professoras de História, naturais ou residentes no concelho não conhecem o local, nem a sua importância.... lá está o que o João tratou num comentário anterior.... ignorância e comodismo.
Cumprimentos
Ana Marta